sexta-feira, outubro 24, 2008

REFLEXÃO DO MÊS

Regresso de Férias
A realidade machuca. Confronta-nos cada dia com o seu progressivo endurecimento. Quer mudar-nos a esperança, teima em apagar os pensamentos mais belos de paz e de justiça…
E, por vezes, consegue…
Andamos preocupados, tristes e apressados. Parece ser esta a descrição do nosso estado no dia-a-dia. Não sou fatalista, mas cada vez mais os aspectos negativos parecem assumir uma maior importância do que aquilo que de positivo existe. É que a balança também parece estar muito desequilibrada: contrapondo as nossas preocupações de ordem vária àquilo que acreditamos estar bem, tornamo-nos pessimistas porque o que nos incomoda é em importância e em número superior. O papel que a família ocupa na formação das crianças é cada vez mais fundamental e ainda assim assistimos à delegação dessa tarefa na escola unicamente; os sonhos de emprego e habitação dignos são constantemente tremidos pela dita crise que se arrasta há anos; Sentimos o crescimento da marginalidade…
E combatemos tudo isto com a esperança num mundo melhor, com a fé de que podemos fazer a mudança com as nossas acções no nosso pequeno mundo, com as pessoas que se vão cruzando connosco pela vida fora… E vamos sofrendo pequenas desilusões… vamos criando defesas que nos protejam da credulidade ingénua que nasce de pressuposto que o ser humano é bom e tornamo-nos nós próprios mais duros, mais distantes, mais indiferentes.
E depois, vamos de férias. Abandonamos por algum tempo a rotina diária que nos consome no remoinho e recarregamos forças, ganhamos uma nova perspectiva e tomamos fôlego para voltar à realidade e tentar combater da melhor forma aquilo que pretendemos mudar.
Estas férias de que falo não implicam necessariamente uma deslocação física (embora ela seja sempre muito positiva e regeneradora e de aproveitar sempre que possível). Poderão até ser momentos como aqueles que tive há algum tempo atrás. Dois casos diferentes de dois alunos que deixarei no anonimato. Um dos meus alunos adultos discutia comigo a melhor forma de elaborar um plano de estudos que lhe permitisse uma aprendizagem. Tínhamos que conjugar nesse plano os horários das aulas com a sua disponibilidade para assistir às mesmas. Sugeri então que com um esforço extra de realização de trabalhos em casa seria possível recuperar o tempo em que o aluno tinha estado afastado. A minha solução pareceu-me tão lógica e tão boa que fiquei orgulhosa de mim mesma. Qual a minha surpresa quando o aluno me responde: “Desculpe, Patrícia. Esse tempo extra não o tenho. O tempo que passo é casa é para me dedicar à minha família e desses momentos não abdico. Temos de pensar noutra solução.”
E dei por mim a concluir da importância daquela escolha, a admirar a prioridade que este aluno conferia à família e a desejar que todos fizéssemos o mesmo. (E é claro que encontrámos outra solução!)
Noutra situação, um aluno meu prestou provas de um trabalho que tinha realizado. Para a apresentação do trabalho escolheu um tema controverso: “Os extraterrestres”. E mais controversa ainda foi a sua abordagem do tema, apresentando-o com base numa perspectiva religiosa. E os seus colegas quase que troçavam da escolha infeliz e da análise ainda mais condenável.
No entanto, independentemente de concordar ou não com o trabalho que foi apresentado, cumprimentei o aluno no fim da apresentação. Nos dias que correm, parece-me que existem fracas convicções, e é importante ter a coragem para defender os nossos pontos de vista, é urgente defender aquilo em que acreditamos, sobretudo quando ser cristão é quase visto pelos outros como sendo um defeito, uma opção pouco reveladora de inteligência.
Retomando o meu texto, estes momentos também permitem a evasão, a reflexão e a renovação da esperança num mundo melhor. Por isso, que existam muitas férias que nos libertem da realidade por momentos! E para concluir, deixo a transcrição de algumas palavras de Gabriel, o pensador (para os que o desconhecem é um cantor/rapper brasileiro com uma mensagem social bastante forte nas suas letras) que penso fazerem todo o sentido neste texto:

"Pensa! O pensamento tem poder. Mas não adianta só pensar. Você também tem que dizer! Diz! Porque as palavras têm poder. Mas não adianta só dizer. Você também tem que fazer! Faz! Porque você só vai saber se o final vai ser feliz depois que tudo acontecer." [Gabriel Pensador]
patricia almeida

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